Boa noite pessoal!
Estamos aqui mais uma vez para disseminar o aprendizado que adquirimos durante o desenvolvimento do curso de especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, oferecido pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Hoje, vamos falar um pouco sobre a reforma do Estado brasileiro nos últimos 20 anos? Então vamos lá!
As primeiras determinações relacionadas à reforma do
Estado podem ser observadas, na década de 1990, durante o governo Fernando
Collor (1990-1992), e estavam concentradas na privatização, liberação comercial
e abertura da economia. No governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) o tema
da reforma do Estado adquiriu centralidade principalmente pela criação do
Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE), responsável pelo Plano
Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, e cuja principal ideia seria de um
Estado que deveria executar direta e exclusivamente as tarefas de sua
competência, as que envolvessem o emprego do poder de Estado ou a aplicação de
recursos. A execução seria descentralizada e delegada às agências executivas e
reguladoras autônomas ou a organizações sociais. Assim, a reforma gerencial,
inspirada nos preceitos utilizados na administração de empresas, parte do
pressuposto de que o privado é mais eficiente do que o público, baseando o
processo de reforma na perspectiva do Estado mínimo (seria uma forma de
governabilidade mais ágil e com menos custos). Esta reforma, a partir de meados
da década de 1990, mostrou ficar muito aquém das metas e objetivos
estabelecidos e sem efeito para atuar nos problemas apontados anteriormente (HEILBORN;
ARAÚJO; BARRETO, 2011).

Na década de 2000, houve muitas mudanças
relacionadas à implementação de políticas públicas, cujo início deu-se juntamente
à posse do presidente Luis Inácio Lula da Silva em 2003, quando vê-se uma nova
proposta de reconstrução de Estado, com este sendo ressaltado como promotor de
políticas públicas em parceria com o movimento social organizado. Desta forma,
o foco eram os direitos sociais (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011).

Em 2002, ao final do segundo mandato do presidente
Fernando Henrique, foi criada a Secretaria dos Direitos da Mulher (SEDIM),
subordinada ao Ministério da Justiça (ainda que esta instância não atendesse
aos ideais do movimento feminista) (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011).
Já no início do governo de Luis Inácio Lula da
Silva, precisamente no primeiro dia de seu governo, através da Medida
Provisória 103, foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM,
para desenvolver ações conjuntas com todos os Ministérios e Secretarias,
fomentando estratégias para o desenvolvimento de políticas para as mulheres,
tendo como atribuições propor, coordenar e articular um conjunto de políticas
públicas direcionadas à eliminação de quaisquer formas de discriminações de
gênero (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011).
Temos as I e II Conferências Nacionais de Política
para as Mulheres e de Promoção da Igualdade Racial, realizadas,
respectivamente, em 2004, 2007 e 2005, 2009, que resultou na garantia de espaço
de participação mais expressiva de mulheres e negras/os na luta para a
implementação da estratégia da transversalidade de gênero e raça na
governabilidade (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011).
Observamos também o I e II Planos Nacionais de
Políticas para as Mulheres, resultado do esforço do governo brasileiro em
combater as diversas formas de discriminação contra as mulheres que persistem
na sociedade brasileira (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011).
Dando ênfase à promoção da igualdade racial e
proteção dos direitos dos grupos étnicos e raciais discriminados, em 2003 surge
a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), originária
do movimento negro no Brasil e pautada no reconhecimento de que “o racismo
consiste em um elemento fundante do Estado brasileiro, pois as estruturas da
vida social, da produção e da apropriação de bens – materiais e simbólicos – e
as esferas de poder no país são permeadas por desigualdades étnico-raciais”
(HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011, p.56).

A intensa participação da sociedade
civil na formulação de políticas públicas tornou o governo mais permeável às
demandas dos movimentos sociais, como o das mulheres e negros/as, que ganharam
mais força e expressão nos anos 1980 e 1990, criando Conselhos de Direitos e
Secretarias, como a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e a
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), que têm como
objetivo gerar impactos em todas as áreas de atuação atinentes ao governo, de
modo a promover uma efetiva cidadania das mulheres e dos segmentos raciais
discriminados, considerando a formulação, a implementação e a avaliação de
políticas públicas (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011, p.34).
Ainda é possível observar, no final do governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a implementação e o aprofundamento de
vários mecanismos dessa nova prática no Brasil, ancorada na reestruturação da
capacidade estatal, na centralidade das políticas sociais, na ampliação e
fortalecimento de mecanismos de participação e controle social, e nas experiências
de políticas de transversalidade (HEILBORN; ARAÚJO; BARRETO, 2011).
Não podemos deixar de citar que as mudanças
ocorridas a partir da década de 1990 afetaram significativamente a implementação
das políticas públicas de gênero e raça. Como podemos observar anteriormente,
as transformações ocorridas no que tange ao papel do Estado e sua reforma
possibilitaram uma maior e melhor pactuação entre governo e sociedade civil;
junção esta que possibilitou que todas estas políticas públicas implementadas
no país pudessem se aproximar à realidade das/os que delas necessitam.

REFERÊNCIAS
HEILBORN,
M. L.; ARAÚJO, L.; BARRETO, A. Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça |
GPP – GeR: módulo V/ – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de
Políticas para as Mulheres, 2011; 170 p.
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